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parte 8

...Tudo ocorreu muito rápido: apenas Addora encostara com a ponta dos dedos na maçaneta ornamental da porta de saída, e o chalet inteiro desaparecia subitamente como mágica! assim como tudo que havia nele. Vesta inclusive caíra no chão, sem mais canapé algum. Elas agora encontravam-se no topo de uma pequena coxilha bem arredondada, com esparsas gramíneas verdes e muito orvalho. Ao redor em descendo dali, diferentes gêneros de árvores coníferas, como pinheiros e araucárias por exemplo, despontavam de uma neblina espessa e branca como a neve; o horizonte era cego inatingível com o olhar, e não se via o sol, embora a manhã estivesse com um céu ciano-apagado, pois mesclado a elevadíssimas nuvens cirrus omnipresentes e muito difusas. Ventava e fazia frio; muito frio. Um frio absurdo, que não parecia conformar-se corretamente com o quadro paisagístico e ambiental. Dota imediatamente se encolhe, antes mesmo de entender o que realmente tinha acontecido com o chalet encantado. Então, atônita, vira-se em seguida para Vesta, culpando-se vigorosamente:


ADDORA

Perdão! Perdão!!... Sou uma tonta...!


A donzela branca, que no máximo tentou ficar de joelhos sobre o solo úmido e gelado ao se levantar, olhava eventualmente para o chão, enquanto dizia, sem demonstrar grande preocupação aparente:


VESTA

Iria acontecer cedo ou tarde, cavaleira. Então... então não precisa se desculpar. Mas obrigada por tudo, mesmo assim...


E nisso, Iris Vesta começava a espirrar, com seu timbre agudo e fraco. Dota ficou momentaneamente perturbada, mas não tanto porque suspeitava que realmente poderiam morrer de hipotermia ou congeladas ali em poucas horas se nada fizessem ou se o tempo atmosférico não melhorasse, mas porque a reação de sua nova e mística amiga parecia totalmente impensada. Além disso, Addora sempre imaginou os Magos como entidades cuja sabedoria transcendia à dos selenícios comuns; para ela, Magos sempre resolviam com uma mão nas costas todo tipo de problema mundano; pelo menos, com Cinisippe era sempre assim, muito embora Cini não fosse uma maga de verdade: ela só conhecia uma dúzia de truques interessantes. No entanto, nesse estágio, Addora começava a questionar a sua idéia fixa sobre a natureza dos Magos, depois das inúmeras evidências que fora capaz de computar desde que acordou nesse dia maluco. Mas Dota não tinha tempo para prosear naquele instante; cada décimo de segundo poderia ser uma questão de vida ou morte para ambas: apesar de Addora não constatar gelo ou neve em nenhum lugar, aquela temperatura deveria estar, no mínimo, abaixo de -10ºC, ou pelo menos, tal era a sensação térmica horrível que Dota conseguiu inferir, considerando também o vento leve e contínuo, bem como a umidade ambiente. Então, Addora tomou uma atitude crucial. Respirou profundamente 3 vezes, e retirou apressadamente suas longas botas de couro e sua meia- calça branca, posicionando gentilmente de cada vez um pé sobre o solo congelante; então, desprendeu o cinto e despiu-se também de sua túnica flexível; por último desmontou as braçadeiras e luvas metálicas, ficando no final somente com suas roupas íntimas; em nenhum momento parou de respirar de uma forma ritmada. Dota então agachou-se sobre o chão, e varreu o solo e o gramado encharcado com suas palmas abertas, esfregando-as em seguidas diretamente sobre o seu rosto e tórax, como se estivesse curtindo o rigoroso frio. Continuou fazendo aquilo até que todo seu corpo estivesse entrado em contato com o orvalho gélido. Vendo aquela cena, a donzela branca ficou espantada, lançando à jovem e esguia cavaleira um olhar perplexo, e dizendo-lhe:


VESTA

Você é muito corajosa, sabe? Invocando uma morte rápida, sofrerá menos do que Vesta, que tem medo de se suicidar e prefere sofrer uma morte longa e cruel pelo frio.


Addora estava muito concentrada em sua atividade inusitada para prestar a devida atenção à amiga, mas ao ouvir aquelas palavras, ficou totalmente desconsertada:


ADDORA

O... o quê? N-não! NÃO!! Do que está falando?!? Isso que estou fazendo se chama... hum... "terapia do frio"! Não conhece? Ahm... Enfim! com isso, madamselle Vesta, espero poder nos tirar desse frio com vida! Só que... vamos precisamos caminhar um pouco... Por favor, não desista!


Addora dizia isso enquanto terminava de se vestir, e estendia uma mão e um sorriso amigável a Vesta, que a olhava como quem pouco ou nada endenteu. O rosto da cavaleira estava todo corado agora, e isso era uma consequência do ritual da terapia do frio, a qual fazia a temperatura do corpo aumentar vertiginosamente por um tempo, conferindo-lhe inclusive uma imunidade a agentes patológicos. Mas Addora sabia que dispunha de um tempo relativamente curto para procurar um verdadeiro abrigo; então, como Vesta ainda nada respondia -- espirrava, ao invés disso --, Addora puxou-a pela mão da forma mais educada que pôde, pediu-lhe licença dando-lhe leves tapinhas em seu roupão branco umedecido. Finalmente, Vesta falou, ou tentou falar, incrédula e desesperançosa, e com os olhos lacrimejando, quiçá apenas de frio:


VESTA

Cavaleira... -- atchim! -- E pra onde pretende ir...? -- a-atchim!! -- Vesta não consegue se orientar nos Ermos Caóticos... A Magia Branca não funciona direito aqui. Vesta já tentou de tudo...


Addora, percebendo que a saúde de Vesta piorava rapidamente -- ao contrário de si própria, que estava em pleno vigor e disposição --, envolveu-a com o braço esquerdo ao redor dos ombros, puxando-a para o calor de seu corpo: "Venha aqui", murmurou gentilmente. Guiando assim Vesta numa caminhada sobre uma borda da coxilha, como que tentando vislumbrar algum horizonte além, Addora disse:


ADDORA

Deixe-me ver... Hmmm... Tem algum lugar bem alto por aqui que você conheça, madamselle Vesta? Ah! E eu poderia lhe chamar de Vesta, madamselle?




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