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parte 7

E é isso mesmo que ocorre; e Addora, em natural compaixão, vai ao lado de Vesta, tentando reconfortá-la, acariciando seus prateados cabelos sedosos. Então, quando surge uma ocasião, lhe diz:


ADDORA

Não chore mais, madamselle Vesta... pois farei tudo que estiver a meu alcance, para vê-la longe de tal sofrimento.


Então, Vesta, que já se encontrava um pouco cansada de prantear e soluçar, baixa lentamente a cabeça, realiza um longo suspiro, e depois se levanta enxugando o rosto com um lenço branco, agradecendo à cavaleira e se afastando um pouco da mesa do café da manhã. Ela se dirige até o centro da sala, fungando uma ou duas vezes sempre com o lenço próximo ao rosto, e então decansa num formoso canapé de um tom pastel escuro de lilás, que dava um aspecto místico ao ambiente. Com os olhos ainda um pouco lastimados, Vesta faz menção para que Addora se acomodasse em um sofá ao redor da pequena távola retangular de cinzenta madeira polida, que se encontrava quase no meio da peça; uma vez as condições estabelecidas, a jovem e misteriosa maga branca, como que retomando seu semblante sobrenatural, começa a expôr a Chevalier Dota a sequência de conturbados eventos que culminaram em sua infeliz situação, citando mundos mágicos ou longínquos, alguns pouco ou mesmo nada conhecidos pela discípula da Ordem dos Cavaleiros. Vesta dizia, num dado momento:


IRIS VESTA

...foi quando na viagem ao Império do Mar, Pelagor, recebidos num sobrado de poderosos senhores do além-mar, percebi a falta daquilo que trazíamos de mais valioso. Objeto da jornada: o Septro da Neve. Naqueles dias, era Vesta incumbida de portá-lo. A fúria dos Magos Brancos foi intensa. Rastreamos o Septro da Neve até os confins daquele Domínio. Por túneis subterrâneos e submarinhos profundos e infestados, vagamos. O inimigo foi ardiloso. Suportado por bandidos e piratas, aliou-se também a outros Magos, interessados no poder do artefato; sabemos dos Magos Pretos. Desde então, de nós teve o Septro da Neve sua presença ocultada, e assim o governante renunciou-nos sua proteção no arquipélago imperial, descreditando o próprio valor dos Magos Brancos. Então, nossa presença em Selênia foi imediatamente requisitada pelo Círculo dos Magos Brancos. A punição foi muito severa, mas você nada vê porque somos Magos Brancos. Depois, Vesta foi sentenciada a vigiar, até o fim de seus dias, esta região de Domínios, até que consiga recuperar o Septro da Neve. Mesmo que este nunca seja trazido até aqui. E um dia, Vesta se machucará ou ficará doente, e não conseguirá conjurar um chalet como este todo entardecer...


Então, Iris Vesta suspirou, e olhou cansada para a baixa távola, não sem um dissimulada e desesperada angústia. Chevalier Dota estava abismada; tanto quanto estava indignada na verdade. Queria elucidar a barbaridade e insensatez dos Magos Brancos para Iris Vesta, mas não se julgava sábia o suficiente para isso. Queria sugerir a Vesta que abandonasse toda aquela busca perversa e virtualmente impossível, e também a procurar ser lúcida e quitar-se daquela maldição indevida, mas não podia simplesmente insuflar à donzela branca a idéia de que traísse seus próprios princípios; seria muito injusto, inclusive porque Dota, embora não conhecesse verdadeiros magos, conhecia um pouco sobre o código de algumas sociedades de magos. Mas naquele instante gostaria de poder se confrontar com aquele desprezível código; de esmagá-lo com a palma da mão. Mas logo deixou esses pensamentos violentos de lado, e, com uma distinta determinação e coragem, levantou-se do sofá e disse, sem mentir:


ADDORA

Então, compartilhemos essa situação até o fim!


A essa resposta, Vesta parecia começar a expressar um outro tipo de olhar, não indiferente, frio ou tristonho, e sim apagado porém contemplativo. Não sorriu, mas talvez algo mais valioso lhe tenha sucedido. Como Vesta nada dizia, e Addora não percebera a –- realmente -- sutil transformação no rosto de sua interlocutora, a cavaleira embaraçada insiste, sorrindo sem jeito:


ADDORA

Ora! Venha, vamos ver o dia nascendo lá fora! Parece fresco e agradável!


E já se dirigia em direção à porta de saída do chalet.


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