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parte 5

O que Addora viu não foi propriamente assombroso, mas algumas pessoas poderiam ter sentido o leve calafrio na espinha que ela sentiu, caso tivessem percebido o levantar rápido de uma silhueta pálida e magérrima, passando da posição deitada para a sentada sobre uma cama, lembrando alguma daquelas tristes entidades do além das histórias populares. Claro que aquela figura, envolta em lençóis brancos, não estava na cama em que Dota tinha dormido, mas sim na de cima! Quer dizer, a cama toda na realidade era um beliche! -- este, por sinal, com uma 'viga baixa', se é que vocês lembram do episódio do galo. Ocorre que o ser que despertava, agora imóvel naquela mesma postura, parecia descrever os contornos de uma miúda e delicada senhora, ou talvez uma jovem, de cabelos densos e reluzentemente esbranquiçados, caindo na altura dos ombros e cobrindo o perfil de seu rosto. Addora foi paciente; não achava que seria cordial fazer qualquer tipo de interrupção, sequer ficar prestando atenção nos movimentos de sua mais que provável anfitriã, pensava; então, sem sair do lugar, apenas fitou os armários e potes diversos do estabelecimento que ficavam na parte de trás da cozinha.

Quando olhou de novo para frente, Addora levou um susto, e em seu estremecimento quase soltou algum meio-grito! Aquela pessoa tinha surgido exatamente a sua frente, ereta, e sem fazer qualquer tipo de ruído! mas mantinha os olhos cerrados. Era uma jovem, pois então, e suas feições, peculiarmente singelas. Porém nada dizia, nem sequer parecia se mover... De repente, ergueu o braço esquerdo a meia-altura e começou a fazer uma sequência ritmada de sinais com os dedos daquela frágil mão. Dota não ousava se mexer; sua garganta estava seca, e agora tinha suficientes indícios para concluir que aquela garota definitivamente não era normal, mas não apenas isso: parecia dispôr de grandes poderes, talvez mágicos, e quiçá para o bem. Mas Addora também não via razão para se sentir particularmente ameaçada; tampouco passou-lhe pela cabeça tocar no punho de sua espada embainhada como reflexo, e ela não ignorava de todo as coisas da Magia, nem o quão poderiam ser perigosas, isto é, nas mãos de pessoas vis. Apenas esperou ansiosa, cara a cara com a misteriosa moça -- talvez fosse sonâmbula, além de tudo?

Não demorou meia-dúzia de segundos para que Addora se surpreendesse novamente com as atitudes daquela pessoa, e agora até começou a se achar ridícula pelos seus receios de poucos momentos atrás. Pasmem! pois agora, a cada 2 ou 3 segundos, a mão da garota de cabelos brancos executava um novo sinal, e, precisamente como num passe de mágica, suas roupas mudavam instantaneamente...! Estava escolhendo as vestimentas do dia, visualizando com o poder da mente sua própria imagem! E Dota, evidentemente, via cada um dos conjuntos daaquelas escolhas: geralmente longas vestes brancas, vestidos, robes e roupões; eventualmente vinha uma capa, acessórios com jóias ou ainda outros ornamentos decorativos de tons coloridos, sempre pastéis; uma tiara azure com trabalho em madeira polida, e que agora modelava seu cabelo, parecia ter sido sua primeira resolução, já que foi se mantendo desde que surgiu, cedo, até o fim do fenômeno.

Finalmente, após o término de tal ensaio espontâneo de feitiçaria, a estranha donzela branca abre seus olhos; são de íris claras, acinzentadas. Seu olhar é monótono, talvez pela hora da manhã. Addora, que já não representava alguém de estatura alta, era pelo menos 10cm mais alta do que ela. A garota percebe Chevalier Dota -- que a olhava curiosa -- a pouco mais de 1m a sua frente, e sua única reação de expressão emotiva talvez tenha sido a seguinte: piscou duas vezes, depois olhou momentaneamente para o chão, então ergueu o olhar e perguntou para a visitante indesejada, e sua voz tinha um tom alvo e era pausada, e apresentava um timbre elevado mas nem tanto, além de um volume muito baixo para se ouvir sem algum esforço:

DONZELA BRANCA
Quem é você?


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