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parte 4

Addora divertia-se com a carta de sua querida amiga da República, a quem ela chamava de 'Cini'. Assim, apesar da perigosa viagem que teria de trilhar de algum jeito ou de outro para poder retornar às fronteiras seguras do Reino Selênico, a jovem calaveira não sentia o peso da preocupação em seus ombros naquele momento.

Quanto aos ermos, eram percebidos pela maioria dos cidadãos do Reino como territórios caóticos e insólitos. Além disso, já havia muitos séculos reis e rainhas selênicos tinham abandonado a própria idéia -- trágica -- de avassalar aquelas esfíngicas terras localizadas nos confins mágicos e profundos da grande ilha Selênia -- não por acaso, esta última tinha justamente a forma de uma majestosa lua crescente, com a concavidade apontando para o Nordeste. Não obstante, por maior que fosse Rhoradrum com seus imensos campos de coxilhas verdes e fúschias, tratava-se de apenas um dos inúmeros Domínios já catalogados pelos eruditos, e normalmente poderia ser encontrado em algum lugar na porção meridional da curiosa ilha. Isso, de certo modo, não deixava de alimentar a confiança de Chevalier Dota em sua jornada, já que a Acrópolis, cidade-estado onde ela cresceu com a serenidade local e particularmente com a de seu preceptor Argos, erguia-se nos escarpados Montes Trakias sobre o gelado Lago Knossus, justamente na extremidade austral da ilha e no limite desta com a grande Vastidão marítima; se Addora rumasse sempre e sempre ao Sul através dos campos e das colinas, eventualmente chegaria aos pés das imponentes muralhas do grande Remparte Exterior, e então talvez ela pudesse se considerar praticamente salva e em casa -- muito embora isso não fosse nem um pouco correto!

Sem se deixar levar muito mais pela fantasia e o que haveria de ser, Dota vestiu-se para a viagem, equipando-se com suas coisas de Chevalier. Nos 2 outros envelopes enviados por Cini, havia itens importantes para seu uso: o anel mágico de cobre e, inclusive... um miniatlas ambiental da oculta região! Entusiasmada, Addora folheia rapidamente o livreto; ela sempre foi muito curiosa por tudo aquilo que é pitoresco, dos grãos mais insignificantes e indivisíveis à infinitude do espaço sideral, e ali estava a ocasião de se debruçar teoricamente sobre uma dessas regiões adversas e raramente visitadas pelos habitantes selenícios, antes de um iminente e incontornável confronto físico com aquele mundo estranho, o Domínio de Rhoradrus. No entanto, mal ela começava a apreciar no material as primeiras imagens coloridas -- e por vezes medonhas -- de plantas ou de criaturas excêntricas, que sua concentração foi interrompida por um ruído perturbador, vindo da direção da cama atrás dela; isso em meio ao silêncio matinal no chalet, eventualmente contagiado pelo farfalhar distante de folhas e pela canção de aves desconhecidas do lado externo. Addora, assustada, se vira promptamente.



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